SOMOS TODOS CULPADOS...


Somos todos culpados…

A corrupção está presente nas mais diferentes civilizações ao longo dos anos, está presente há centenas de anos em diversas nações, sejam democracias, sejam ditaduras, em governos de ideologia de esquerda ou de direita, sejam regimes parlamentaristas ou presidencialistas, trabalhos acadêmicos apontam a existência das práticas corruptas desde o mais antigo dos tempos. No Brasil, desde a descoberta pelos portugueses, convivemos com as mais diferentes práticas desonestas. Nas pregações de Padre Antônio Vieira já podíamos encontrar denúncias fantásticas de corrupção. A cultura de levar vantagem sempre está mais enraizada na sociedade brasileira do que podemos imaginar.
Outro dia me surpreendi com a notícia que preencheu boa parte dos noticiários globais. Segundo a matéria, um bandido havia sido preso no Rio de Janeiro depois de assaltar um homem em uma agência bancária do centro da cidade. Segundo a Polícia, o ladrão havia roubado uma mala com R$ 100 mil, mas ao ser ferido na perna o bandido deixou a mala cair, o dinheiro se espalhou e muita gente tentou recolher as cédulas. A polícia disse que apenas R$ 47 mil foram recuperados. As cenas das pessoas correndo enlouquecidas em cima das cédulas foram registradas por câmeras de segurança. A conclusão da matéria não poderia ser outra senão a de que a população agiu exatamente como o bandido perseguido pela polícia: atacaram e roubaram. Foram os agentes da ação que sempre condenam. Quem somos nós, então, para erguer a voz e condenar os corruptos?
Vivemos a cultura da mentira e da hipocrisia. Temos que mudar essa situação. A correção deve iniciar-se dentro de casa, continuar na escola e no dia a dia, nos pequenos detalhes. Muitos filhos estão acostumados a ouvir na mesa do jantar, os pais dizerem que pagaram propinas para vencer uma licitação ou para se livrar de uma multa. E crescem acreditando que isso é ser inteligente, é prática normal e não um crime. A sonegação de impostos, a propina para apagar uma multa de trânsito, a obtenção de um falso atestado médico para justificar a falta ao trabalho ou à sala de aula, são manifestações consideradas normais e justificáveis pelo brasileiro comum. Mas todas essas ações, assim como pegar dinheiro dos outros – mesmo que espalhados pela rua – são crimes, são atos corruptos.
O pior é que, com esse reiterado modo de agir, acabamos por achar que é correto, “nos habituamos”. Mentiras, jeitinhos, molejo, jogo de cintura, malandragem, chantagem, sonegação, “roubadinha”, propina, “arrumação”, tudo isso sempre feito às escondidas para obter favores, ganhar tempo, espaço e vantagens para nós ou para os nossos. São atitudes que devem ser evitadas, pois temos consciência de que é a partir dos pequenos atos que progredimos para os grandes e, como todos sabemos, as novas gerações são educadas pelo exemplo que, se bons, certamente teremos também pessoas, no futuro, fazendo as coisas iguais ou melhores do que fazemos agora. Porém, se banalizarmos os pequenos detalhes, achando que eles nada significam, certamente, nossos filhos agirão do mesmo jeito, ou pior.
É preciso entender que cada momento que vivemos é crucial para a formação do nosso futuro. O resultado do que fizermos agora vai afetar nossos filhos e netos e os destinos do país. É responsabilidade nossa, do cidadão, lutar contra a corrupção, porque este delito prejudica a sociedade como um todo. Mas é necessário refletir sobre isso com sabedoria e tranquilidade e não tentar encontrar um bode expiatório para a crise. Somos todos culpados. Temos corruptos dentro de todas as instituições. Dentro de muitos lares.
Há uma complacência com a micro corrupção. Cada um de nós deve pensar: a partir de agora não vou querer tirar vantagem contra outro cidadão, contra uma instituição, contra o Estado. Aí sim estaremos no início do começo da luta contra a corrupção. Concordo com a posição da presidenta Dilma, que ao ser questionada sobre as razões pelas quais o PT não conseguiu cumprir a sua promessa de acabar com a corrupção no Brasil, respondeu que a atividade de controle da corrupção jamais termina. E, ou a gente assume nossa parcela de culpa e muda a nossa própria natureza, ou a gente não muda o Brasil.


Isabela Scaldaferri
belscaldaferri@hotmail.com


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